17,5% da população do Estado está em situação de pobreza

Posted under Sem categoria On By Mariene

A pobreza pode ser definida como a situação em que as pessoas não têm rendimentos suficientes, no âmbito familiar, para sua subsistência. Nessa definição, não é considerado o acesso a serviços básicos, como os de saúde, educação e moradia, contemplados na construção de indicadores mais amplos, como o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM/PNUD). O critério do valor monetário utilizado para mensurar a população pobre também não é algo simples de ser estabelecido e pode ser diferente a depender da realidade para o qual será aplicado.

O Brasil não adota um valor monetário oficial para a mensuração da pobreza, embora a metodologia do Banco Mundial seja uma importante referência, por ser amplamente utilizada em nível internacional, inclusive no monitoramento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em que a erradicação da pobreza extrema é o primeiro dos objetivos firmados em acordo entre os 193 países que integram a Organização das Nações Unidas (ONU).

O Banco Mundial estabeleceu como medida para a linha de pobreza a paridade do poder de compra (PPC), com metodologia divulgada em 1985 e revisada periodicamente. Em 1990, definiu-se a linha de extrema pobreza para as pessoas que dispunham de menos de US$ 1,00 por dia (PPC de 1985), valor que foi atualizado para US$ 2,15, em 2022 (PPC de 2017), equivalendo a R$ 198,78 por mês e, para a linha de pobreza, o valor de US$ 6,85 por dia ou R$ 633,29 ao mês.1

A exemplo de publicação recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as condições de vida no Brasil e, mais especificamente, sobre a pobreza e a extrema pobreza,2

a Fundação Seade apresenta a análise para o Estado de São Paulo, considerando-se o rendimento domiciliar per capita3 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2022 e os valores da linha de pobreza e de extrema pobreza do Banco Mundial, referentes ao mesmo ano.

Pobreza no Estado de São Paulo atinge 17,5% da população

Em 2022, 30,4% da população brasileira vivia abaixo da linha de pobreza (em 2021, eram 36,2%). Este percentual encobre valores extremamente diferenciados, como os registrados no Norte e Nordeste do país, especialmente no Maranhão (56,1%) e no Amazonas (54,9%) em comparação aos observados no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, caso de Santa Catarina (12,3%), Distrito Federal (15,1%), Rio Grande do Sul (16,3%) e São Paulo (17,5%).

Situação similar, em termos geográficos, é encontrada para a população na extrema pobreza: 5,4% no Brasil (9,2%, em 2021), sendo a mais alta no Maranhão (13,5%) e a mais baixa em Santa Catarina (1,6%).

O Estado de São Paulo apresentou 2,5% de sua população na extrema pobreza.

Gráfico 1 – População classificada em situações de pobreza e extrema pobreza

Brasil e unidades da federação, 2022, em %

Extrema pobreza é maior nas regiões Sudeste e Sudoeste do Estado

Em 2022, dos 47 milhões de pessoas no Estado de São Paulo, 8,2 milhões estavam em situação de pobreza (17,5%) – em 2021 eram 10,4 milhões, ou 22,3%. Esse percentual se distribui de modo diferenciado entre os dez estratos geográficos do Estado definidos pela PNADC/IBGE e apresentados em mapa ao final deste texto. A região Sudeste, o Entorno Metropolitano Oriental, a região Sudoeste, o Entorno Metropolitano Ocidental e a região Noroeste apresentaram as maiores proporções de pessoas abaixo da linha de pobreza, enquanto as menores estavam na região Central, na RM da Baixada Santista, na RM de Campinas, na RM do Vale do Rio Paraíba e Litoral e na capital de São Paulo.

A extrema pobreza no Estado atingia, em 2022, 1,2 milhão de pessoas, ou 2,5% e, em 2021, 2,1 milhões, ou 4,4%. As maiores parcelas da população na extrema pobreza estavam nas regiões Sudoeste e Sudeste, na capital e no Entorno Metropolitano Oriental. Em contraposição, nas regiões Noroeste, na RM do Vale do Rio Paraíba e Litoral Norte, RM de Campinas, região Central, RM da Baixada Santista e Entorno Metropolitano Ocidental, as proporções eram mais baixas.

Gráfico 2 – População classificada em situações de pobreza e extrema pobreza

Estado de São Paulo e estratos geográficos, 2022, em %

Em números absolutos, há mais pessoas na pobreza e extrema pobreza na capital

Na distribuição da população em situação de pobreza no Estado, em 2022, a maior concentração estava na capital (1,9 milhão de pessoas, ou 23,3%), devido ao seu maior tamanho populacional, enquanto a menor foi registrada na RM da Baixada Santista (270 mil pessoas, ou 3,3%).

No que se refere à extrema pobreza, a maior proporção de pessoas nessa situação no Estado também estava na capital (360 mil pessoas, ou 30,6%), em 2022, e a menor encontrava-se na região Noroeste (37 mil pessoas, ou 3,2%).

Gráfico 3 – Distribuição da população classificada em situações de pobreza e extrema pobreza

Estratos geográficos, 2022, em % (Estado de São Paulo = 100%)

Principalmente mulheres negras e pessoas com 30 a 59 anos estão na pobreza ou extrema pobreza

No que se refere às características pessoais, as mulheres eram maioria na pobreza (53,7%) e, principalmente, na extrema pobreza (57,5%) no Estado de São Paulo, assim como os negros nas duas situações (52,4% e 51,0%, respectivamente). A combinação sexo e raça/cor coloca as mulheres negras com a maior parcela na pobreza (27,8%) e, em especial, na extrema pobreza (28,9%) – neste último caso, com pouca diferença em relação às mulheres não negras (28,5%).

Por faixa etária, os adultos de 30 a 59 anos e as crianças e adolescentes de até 14 anos apresentaram as maiores proporções na pobreza (33,9%) e na extrema pobreza (35,7% e 31,0%, respectivamente).

População classificada em situações de pobreza e extrema pobreza, segundo características pessoais

Estado de São Paulo, 2022

Características pessoais Pobreza Extrema pobreza
N. abs.
(em mil)
% N. abs.
(em mil)
%
Total 8.217 100,0 1.174 100,0
Sexo
Homens 3.806 46,3 499 42,5
Mulheres 4.411 53,7 675 57,5
Raça/cor (1)
Negros 4.288 52,4 597 51,0
Não negros 3.897 47,6 573 49,0
Sexo e raça/cor
Homens negros 2.014 24,6 258 22,1
Homens não negros 1.772 21,7 240 20,5
Mulheres negras 2.274 27,8 339 28,9
Mulheres não negras 2.125 26,0 333 28,5
Faixa etária
0 a 14 anos 2.785 33,9 364 31,0
15 a 29 anos 1.851 22,5 246 21,0
30 a 59 anos 2.789 33,9 419 35,7
60 anos ou mais 792 9,6 145 12,3

(1) População negra refere-se a pretos e pardos e população não negra, a brancos e amarelos.

Os dados da PNAD Contínua podem ser analisados a partir de dez estratos geográficos do Estado de São Paulo. As regiões metropolitanas da Baixada Santista e de Campinas são iguais à sua regionalização oficial. Já a RM de São Paulo é desagregada em capital e Entornos Metropolitanos Oriental e Ocidental. Os demais estratos – Vale do Paraíba, Central, Noroeste, Sudoeste e Sudeste – agregam mais de uma região administrativa, com pequenas variações na sua composição, mas permitindo mostrar as diferentes situações do mercado de trabalho paulista.

Estratos geográficos, regiões administrativas e regiões metropolitanas

Entorno Metropolitano Ocidental
Barueri, Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Embu das Artes, Embu-Guaçu, Francisco Morato, Franco da Rocha, Itapecerica da Serra, Itapevi, Jandira, Juquitiba, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba, São Lourenço da Serra, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista.
Entorno Metropolitano Oriental
Arujá, Biritiba-Mirim, Diadema,
Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Poá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Salesópolis, Santa Isabel, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Suzano.

 

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 5a visita; Fundação Seade.

 

Notas
1. Valores em reais corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA.
2. IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Linhas de pobreza monetária e as populações consideradas pobres no Brasil. Rio de Janeiro, 2023. (Estudos & Pesquisas. Informação Demográfica e Socioeconômica, n. 53).
3. Rendimento domiciliar per capita habitual de todos os trabalhos e efetivo de outras fontes, inclusive rendimentos em cartão/tíquete, transporte ou alimentação.

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